Esse capítulo foi incluído aqui para desfazer a impressão que carregamos alguma espécie de fobia institucional, como se o simples fato de desviar-se da instituição promovesse o Evangelho. Não é esse o caso.
Toda instituição que existe para servir aos homens é boa e útil. Muitos 'anônimos de Deus' realizam o Caminho da Fé, mesmo dentro das instituições, conforme lhes é possível, atuando com toda boa consciência.
Porém, quando ela demanda que os homens existam para mantê-la e servi-la, então, ela se torna demoníaca e instrumento do congelamento das almas humanas.
Penso que uma instituição é sempre algo como o Sábado nas narrativas do Evangelho: pode ser dia de descanso ou pode ser dia de prisão e dia de juízo e morte. Tudo depende de como se vê as coisas. Assim como o Sábado foi feito para o homem e não o homem para o Sábado, assim também a instituição existe para servir o homem, e não o homem à instituição.
Ou seja: uma instituição só tem poder maléfico se os homens a servirem como algo que é superior à vida e a existência das pessoas. Quando é assim, até o Templo de Jerusalém vira morada de demônios.
Parece tudo muito simples de entender, mas a história mostra como o poder de perversão humana é facilmente exposto quando a instituição se instala em nós com I maiúsculo. É assim em todos os níveis sociológicos e, naquilo que nos interessa aqui, também é assim no cristianismo protestante do qual descendemos. Ora, isto vai das formalidades e das politicagens dos concílios, das convenções denominacionais e ministeriais, até as mais cretinas formas de perversidade, praticadas em nome de Jesus, e feitas de intrigas, tiranias, perseguições neuróticas, e invenções mirabolantes, que tiram a simplicidade do Evangelho, e pervertem o sentido de ser Evangélico.
Saibam todos: E por ter entregue a alma à "Instituição" e as instituições à gente sem alma, que a igreja carrega mazelas próprias desse estado de ser. A lei, o orgulho, a vaidade, o mercado, a vanglória, a fama, o culto à imagem, o comportamentalismo, a superficialidade, o formalismo, os ciúmes, a picaretagem, a fixação no controle das pessoas, as jogadas políticas, a venda de votos, as negociatas e a grotesca hipocrisia, tornaram os evangélicos insuportáveis até para os evangélicos mais sensíveis, mesmo os que não tiveram um encontro com Jesus, que é usado para seduzir as almas aflitas; mas substituído pela "cartilha da igreja", tão logo aquele que Nele creu entre para o seus registros de membresia.
Portanto, duas coisas devem ficar claras:
1) Que não é a instituição que tem o poder de matar as coisas, mas sim o coração que se deixar fixar pela instituição, fazendo da existência dela um fim em si mesmo.
2) Deus não tem compromisso com a manutenção de instituições que se entendem representantes de seus interesses na Terra. Não. Ele não veste as camisas de nossos times eclesiásticos e nem carrega o orgulho besta de pertencer a qualquer estrutura denominacional.
O evangelho de João registra a profundidade do problema com as seguintes palavras:
"Veio para os seus, mas os seus não o receberam, mas a todos quanto o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber: os que crêem no seu Nome."
Pensemos: Se quando Ele veio para os que eram naturalmente "os Seus" na Terra (os judeus, descendentes da Promessa feita a Abraão), esses tais nem sequer o reconheceram, por acaso Deus manteve-se limitado a eles na manifestação histórica do Seu amor? Não. Aqueles que "O receberam" — os quais também Dele "receberam o poder de serem feitos filhos de Deus" — são vistos por João como sendo todo e qualquer ser humano que acolhe Jesus com a gratidão de quem "foi feito", posto que "não era". Assim esses são porque sabem que não mereciam terem se tornado.
Ou seja: quando quem era, creu que era tanto, que não poderia deixar de ser (o Israel histórico), então, não O reconheceu. E quando aqueles que não eram, passaram a ser, assim foi porque aceitaram a oferta da Graça como os que recebem aquilo que não merecem, porém crêem no poder da promessa a eles feita por Aquele que os chamou de filhos, por Sua livre vontade, e os tornou em pagãos que são feitos filhos de Abraão, e gentios que se tornam o Israel de Deus. Paulo trata disso chamando de um "enxerto" do galho da "oliveira brava" no caule da "oliveira natural".
Desse modo, a Igreja de Jesus Cristo é feita dos que "O receberam" (não sendo naturalmente "os Seus"), os quais, por esta razão, não apenas receberam "o poder de serem feitos filhos de Deus", mas também se tornaram "o Israel de Deus", e contra Ela, as portas do inferno não resistirão.
Ora, o verdadeiro "Israel de Deus" é feito de gente que se vê como aqueles que não deveriam ser, pois, no momento em que julgam que são, e crêem que esse é um estado cristalizado, nesse mesmo momento, deixam de ser.
De modo que, fazendo um paralelo com o princípio do texto, os cristãos, supostamente "Seus", - sejam católicos, ortodoxos, protestantes ou o que for - podem assumir, no tempo presente, a correspondência exata daquilo que os judeus significaram para o Evangelho no primeiro século.
Veja se não é assim: A religião prega que "os Seus" que não O recebem, são todos aqueles que ouvem a mensagem da "igreja" acerca de Jesus, e não O aceitam como Salvador; portanto, não aceitando também serem membros da "igreja"; decisão essa que se tornou na única prova real de que alguém pertence a Jesus (!?). De acordo com esse ponto de vista, fora da religião ninguém é feito filho de Deus! E quem não é membro está 'desviado' dos 'caminhos do Senhor; posto que tais caminhos devem passar inevitavelmente pelo grupo religioso que julga 'possuir' a Deus!
É assim que a igreja pensa! Não é de outro modo!
E por carregar a pretensão orgulhosa de possuir um pedigree genético, tal instituição, sem saber, passa a fazer parte do grupo com potencial para "não o reconhecer" Hoje.
No Caminho da Graça, todavia, sabemos que Deus não é evangélico (e nem qualquer outra coisa) e que Seu compromisso no mundo não é com a religião. No Caminho da Graça, ninguém vai simplesmente virar 'evangélico' e todos serão estimulados a serem 'Evangélicos' naquilo que de mais simples e profundo tal definição possa incluir: Ser Evangélico é ser do Evangelho. É conhecer a Jesus no espírito, e conhecer o espírito do Evangelho, e, no poder e na liberdade no Espírito Santo, experimentar o Evangelho como supremo benefício para a vida.
Quem busca a renovação do entendimento conforme o Evangelho, esse é evangélico. Mas quem busca a conformação da mente à "igreja", esse não é Evangélico.
Assim, sou evangélico porque sou do Evangelho. E não sou "evangélico" pela mesma razão.
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