7. PARA ONDE CAMINHA O CAMINHO DA GRAÇA

"O vento sopra onde quer, não sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim, é todo o que é nascido do Espírito"


Essas palavras de Jesus parecem nos apavorar! E por quê? Porque ninguém quer ficar sem saber para onde vai... e ninguém quer confiar a vida a Deus, de fato. Por que você acha que videntes, profetizas futuristas, bruxos, astrólogos, e agoureiros têm tanto poder? Ora, é porque todo mundo quer saber o futuro! O justo, porém, viverá, a cada dia, apenas pela Fé!


A questão, no entanto, não é saber para onde se vai. A única coisa que interessa é a Quem estou seguindo. Ora, nesse caso, não se trata nem mesmo de buscar seguir algo visível, mas de se deixar levar pela leveza do intangível, sem medo, e com total confiança.


Hoje em dia ninguém quer seguir mais o Vento, se é que algum dia já se aceitou isto. Uma mente religiosamente estruturada acaba por tentar 'sistematizar" o Vento, o Espírito, e a Vida.


O interessante é que Jesus é o Caminho, e seguí-lo é a própria certeza de para onde se está indo. No entanto, Ele chamou para Si mesmo o direito soberano de nos conduzir com o mistério do Vento; e cumpre a nós apenas seguir em verdade, pois o alvo da jornada é Vida no Pai.


"Vós sabeis o caminho..."— disse Jesus. Eles responderam: "Como saber para onde vais, sem saber caminho?" A resposta todos conhecem: "Eu sou o Caminho...ninguém 'vem' ao Pai se não por mim".


Ora, é aqui que mora a angústia da alma religiosa. Depois de milênios de treinamento para pensar no Caminho como Conduta, em Verdade como Doutrina, e em Vida como Performance, quem ainda sabe intuir a simplicidade das palavras de Jesus?


E pior: depois de pensar o Caminho como um "projeto", na Verdade como um "sistema", e na Vida como um "modo de ser" conforme a religião, quem pode ainda entender o significado do chamado de Jesus?


E mais desgraçadamente ainda, eu pergunto: Depois de pensar no Caminho como o "Pacote da Salvação", na Verdade como a "Certeza dos Crentes", e na Vida como uma "Longínqua Eternidade", quem consegue ainda discernir a concreta subjetividade do chamado de Jesus Hoje?


E só para concluir: Depois de anos confundindo o Caminho com uma "Estrada Institucional", a Verdade com a "Teologia", e a Vida com a "Disciplina da Igreja", quem ainda pode apenas de leve perceber o convite de Jesus para seguí-Lo no Caminho, sendo levado pelo vento, andando em Verdade no ser, e experimentando a Vida na vida?


Não! A gente quer um mapa, um sistema, uma estratégia, um planejamento de curto, médio e longo prazos. A gente quer saber como acontecerá: Qual a estrutura que nos governará? Quais os sistemas que nos conduzirão? E quais os objetivos concretos a serem declarados?


E que organização terá?



Para mim, se discirno com alguma correção o Evangelho, o espírito é um outro. Jesus nunca organizou nada; a não ser chamar 12 para estarem mais próximos Dele; a multidão em grupos, a fim de repartir o pão; e enviou alguns antes Dele a fim de fazerem preparativos específicos. No mais, nada mais.


"Não andeis ansiosos"... quanto ao vosso ministério, pois a vida é mais que o ministério.


"Não vos preocupeis com o que haveis de falar, pois o Espírito vos concederá..."


"Eis que vos envio como ovelhas para o meio de lobos"...


E lhes deu NADA como armadura, exceto a simplicidade do poder que vem da Graça.


O que creio é que tudo o que diz respeito ao Evangelho que já surge com a pretensão de ser uma organização, já nasce moribundo. A vitalidade do Evangelho está em se deixar conduzir pelo Espírito, conforme a verdade da vida e a vida na verdade.


Portanto, para mim, o melhor governo é o menor possível; o melhor modo, é o mais simples; a melhor forma, é aquela que serve a vida; e o melhor meio é aquele que vai sendo, com a leveza do vento.



Eu creio que a sabedoria do caminho é deixar que o vinho designe o odre; e deixar que o pano determine a melhor veste para ele. E mais: é saber que o vinho novo sempre haverá de demandar, a cada momento ou geração, o odre apropriado; e que a veste nova haverá de ser combinada com o feitio que lhe for próprio.


Assim, formas servem às essências, e não o contrário! Para andar no Caminho tem-se que desistir do modelo industrial, ou da montagem em série, ou da franquia, ou do modelo pré-fabricado, ou de toda fixidez de formas, com suas Constituições e Regimentos, sejam escritos ou subentendidos, que só servem para agarrar-se às paredes do visível, para aplicar fórmulas de sucesso ministerial conforme o Mundo, para instituir hierarquias engessadas e para nos proteger uns dos outros.


E não haverá formas e governos eclesiais?


Ora, ninguém que vive no tempo e no espaço pode crer que as formas sejam evitáveis. Nossa dimensão demanda alguma forma: tempo e espaço produzem formas.


Porém, quem deu forma aos mares, às montanhas, aos rios, às florestas, aos desertos, aos vales, e à vida?


Por que não se pode confiar que Quem fez isto em rocha, pedra, areia, poeira, vegetação, e todas as demais coisas, também pode dar forma ao que é também Sua criação no coração humano, conforme cada geração?


No que depender de mim o Caminho da Graça continuará a caminhar conforme a água. Alguém já viu a água ter algum problema com a forma? Não! A água se serve de todas as formas. As formas servem à água, não a água às formas!


O espírito da caminhada é a simplicidade. Há um só Pastor. Há um só Guia. Há um só Mestre. E a Ele, conforme os princípios do Evangelho, nós todos seguiremos.


Nossa segurança não está nas formas, mas na essência do Evangelho. Onde quer que esse espírito do Evangelho tenha prevalência, todas as boas formas lhe prestarão serviço; mas jamais se tornarão um fim em si mesmo. Serviu, serve; não serviu, então, já não serve. A única coisa que não serve mesmo é atrofiar a Palavra para que ela fique conforme a forma e a fôrma.


Por outro lado, quem precisa de uma forma apenas para garantir que ali as coisas sejam sérias? Será que o que é verdadeiro se faz verdadeiro pela forma? Quem escolhe se fica ou não com o filho pela cara? Ou não será que ficamos com o filho pela vida?


Ora, se um dia tivermos presbíteros, saiba: eles não serão fiscais da vida e nem senhores da doutrina, mas gente da misericórdia e da paz; se tivermos diáconos, saiba: eles não serão porteiros de reunião, mas pessoas que só serão servos se servos forem na vida. No entanto, muitas vezes, a melhor maneira de não matar a vida espontânea é não batizá-la de modo oficial.


Ora, poderíamos criar muitas e muitas formas de governo. Isto é simples. É obvio. E há muitas roupas de grife se oferecendo como modelo para a vestimenta do pano novo. Mas é disso que fujo. No que nos diz respeito, o Espírito conduzirá as coisas conforme a pertinência. E nisto, também, o justo terá que se alegrar na aventura da fé.


A questão do Caminho como lugar é simples: Por que a gente apenas não se reúne com alegria singela, não experimenta o amor que liberta, não goza o privilégio da simplicidade, não se alimenta da Palavra, e não volta à vida cheio das Boas Novas para contar ao mundo?


O fato é que a mentalidade da "igreja" sempre foi a de criar uma "sociedade paralela", com todas as formas de governo secular (e hoje empresarial), a fim de que alguns sejam os donos do processo, os controladores do povo, os governadores de Deus, e os xerifes da santidade.


A "igreja" quer tirar as pessoas da vida e do mundo, criando um viveiro de doentes e arrogantes.


O Caminho do Evangelho, porém, não é assim! Não é! Nele as pessoas não fogem do mundo e nem da vida. Nele não tem que haver governadores e nem príncipes. Nele confia-se na Soberania de Jesus, e na efetividade de Seu poder. Nele, cada pessoa é uma testemunha no mundo, não um militante de um partido eclesiástico. É dessa mentalidade que quero estar longe!


E quanto ao futuro?



Ora, amigos de caminhada, se já não temo a morte, por que haverei de temer o futuro? O Senhor nos guiará se nós não tentarmos guiar o Senhor!


Onde vai dar esse caminho? Já deu no Pai. E nos conduzirá a cada dia no caminho da pacificação!


Pensem em Abraão, que saiu, e foi, sem saber para onde ia. Daí Deus ter considerado que ele era um amigo. A grande recompensa da confiança é a amizade de Deus.


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